O artigo de Caldas et al. publicado em agosto deste ano (2020) no Jornal de Pediatria avaliou a evolução das taxas de sepse neonatal precoce confirmada, sepse precoce presumida, sepse descartada e também o número de recém-nascidos não expostos a antibioticos nas primeiras horas de vida entre 2006 a 2017.
Este estudo unicêntrico utilizou parte do registro do banco de dados da Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais. Foram incluídos no estudo os recém-nascidos de muito baixo peso (RNMBP) admitidos no Hospital da Mulher da Universidade Estadual de Campinas de 2006 a 2017. Os RNMBP foram classificados em quatro grupos: sepse precoce comprovada, sepse presumida, sepse descartada e não expostos a antibióticos nas primeiras 48 horas de vida. Além da evolução temporal, foram avaliados os agentes associados à sepse neonatal precoce e sua sensibilidade aos antibióticos, assim como a associação entre sepse e óbito neonatal precoce.
Os resultados mostram que nos 12 anos de estudo 1.254 RNMBP foram admitidos e a prevalência de sepse precoce comprovada foi de 15,5/1000 nascidos vivos. Um achado interessante foi que a frequência de sepse precoce comprovada permaneceu estável no período, enquanto houve uma diminuição da sepse precoce presumida e consequente aumento da sepse descartada. A porcentagem de recém-nascidos não expostos a antibióticos também apresentou queda significativa no perído (Figura).
A etiologia das sepses precoces foi predominantemente por Streptococus agalactiae e bactérias Gram negativas, sendo a sensibilidade à penicilina e ampicilina dos Gram positivos de 88% e todos os Gram negativos apresentaram sensibilidade à ampicilina e/ou amicacina. Os RNMBP com sepse comprovada apresentaram alta mortalidade (9/17 = 52,9%), assim como aqueles com sepse presumida (22/113 = 19,5%). Nos pacientes com sepse descartada o óbito ocorreu em 5,7% (11/192) e em 10,1% (94/932) dos não expostos a antibiótico nas primeiras 48 horas.
Os autores concluem que a taxa de sepse confirmada é baixa e permaneceu estável nos anos do estudo com diminuição nos casos de sepse presumida. Além disso a porcentagem de pacientes não expostos a antibióticos foi alta, porém com tendência à diminuição no período de estudo. Os agentes encontrados foram os já reconhecidamente associados à sepse neonatal precoce com alta sensibilidade antimicrobiana. O óbito neonatal precoce ocorreu de forma predominante nos grupos expostos à antibioticoterapia.
REFERÊNCIA
- Caldas JPS, Montera LC, Calil R, Marba STM. Temporal trend in early sepsis in a very low birth weight infants’ cohort: an opportunity for a rational antimicrobial use. J Pediatr (Rio J). 2020;S0021-7557(20)30198-4. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0021755720301984