Em 1997, um grupo de pesquisadores nacionais se reuniu com o objetivo de implementar no País uma estratégia de trabalho conjunta, na qual o compartilhamento de dados colhidos prospectivamente de neonatos prematuros de muito baixo peso ao nascer aliado a discussões dos resultados obtidos pudessem melhorar a qualidade da assistência e fomentar a construção de conhecimento na área por meio da pesquisa. Assim, foi a criação da Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais (RBPN), em que, inicialmente, neonatologistas responsáveis por oito centros universitários se comprometeram a criar um banco de dados conjunto e a partilhar as informações e experiências de suas Unidades Neonatais, a saber:
- Instituto Nacional de Saúde da Mulher, Criança e Adolescente Fernandes Figueira – Fiocruz, RJ – José Maria de Andrade Lopes e Olga Bomfim
- Hospital São Lucas – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, RS – Renato Machado Fiori
- Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista, SP – Cleide Enoir Petean Trindade
- Hospital São Paulo – Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, SP – Maria Fernanda Branco de Almeida e Ruth Guinsburg
- Hospital de Clínicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS – Renato Soibelman Procianoy
- Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP – Cléa Rodrigues Leone e Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck
- Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, SP – Francisco Eulógio Martinez
- Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti da Universidade Estadual de Campinas, SP – Sérgio Tadeu Martins Marba
Membros fundadores da RBPN, com representação das oito unidades iniciais, formam o Conselho Superior, que toma as principais decisões administrativas em conjunto desde a sua fundação. Este grupo definiu o regimento interno, os objetivos e as metas de trabalho desta rede de pesquisas. Inicialmente os serviços revisaram os dados de mortalidade e morbidade de suas próprias unidades e ratificaram a necessidade de se estudar as práticas e desenvolver um banco de dados permanente para assessorar o planejamento e o desenvolvimento dos serviços neonatais do País, com foco nos prematuros com peso ao nascer inferior a 1500g. Nesse momento, nortearam-se como objetivos da RBPN:
- Desenvolver uma base de dados com as Unidades
- Estudar as práticas, resultados e custos dos diferentes serviços
- Estudar as variações nas práticas, resultados e custos
- Estudar a incorporação de novas tecnologias e sua efetividade
- Implementar protocolos colaborativos
- Produzir normas e rotinas operacionais e clínicas que possam servir como elemento de educação e planejamento
A partir de então, foram coletadas informações de forma padronizada e estruturada de todas as crianças nascidas com menos de 1500g internadas nas unidades participantes. O banco de dados foi desenvolvido de forma integrada pelas oito unidades participantes, em reuniões presenciais e à distância e o banco de dados ficou alojado no provedor do Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz.
Em 2009, com a finalidade de ampliar a cobertura de informações do território nacional e agregar novas experiências, foram admitidas à RBPN mais oito unidades universitárias públicas, a saber:
- Hospital Universitário Pedro Ernesto da
- Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ
- Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, MG
- Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, PR
- Santa Casa Belo Horizonte – Maternidade Escola Hilda Brandão da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, MG
- Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, MG
- Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná da Universidade Estadual de Londrina, PR
- Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, PE
- Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, MA
Em 2012, outras quatro novas unidades foram incluídas na RBPN, todas estas associadas às oito primeiras. A saber:
- Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, SP
- Hospital Estadual de Diadema ligado à Universidade Federal de São Paulo, Hospital São Paulo, SP
- Hospital Geral Pirajussara ligado à Universidade Federal de São Paulo, Hospital São Paulo, SP
- Hospital Estadual de Sumaré da Universidade Estadual de Campinas, SP
Vale ressaltar que, durante todo o período, o trabalho dos membros da RBPN e do Conselho Superior sempre foi de caráter voluntário e não remunerado. Em, 2014, com o núcleo da RBPN consolidado com estas 20 unidades, percebeu-se a necessidade de inserir os dados obtidos no contexto do cuidado ao prematuro no mundo. Para isso, buscou-se entendimentos com a Vermont-Oxford Network (VON), que é o maior banco de dados prospectivo de recém-nascidos prematuros do mundo, contando mais de 1000 UTIs neonatais que reportam os seus indicadores de maneira padronizada, a fim de permitir a comparação de resultados em quartis e, como consequência, a autorreflexão para a melhora da qualidade da assistência hospitalar. Para concretizar a entrada da RBPN na Vermont-Oxford Network, em 2014, o sistema informatizado de entrada de dados foi modificado para o REDCap, que é um sistema atualizado do ponto de vista tecnológico e capaz de interagir de maneira direta com o sistema da VON. Tal sistema se aloja, desde então, na nuvem de dados da Universidade de São Paulo. Assim, em 2015, as 20 unidades da RBPN começam a reportar seus dados à VON.
Os relatórios da VON são uma ferramenta extremamente interessante para que as unidades, de maneira individual, enxerguem seus pontos fortes e suas fraquezas no contexto nacional e mundial. Diante desse atrativo, entre outros, diversas unidades pediram filiação à RBPN. Construiu-se então uma estrutura na qual além das 20 unidades propriamente ditas da RBPN, possibilitou a filiação à VON por intermédio da RBPN, criando-se o grupo denominado “Unidades Afiliadas VON”. Em 2017, 15 unidades neonatais públicas e privadas entraram nesse grupo de “Afiliadas VON”; em 2018 foram 5 unidades e, em 2019, mais 6 unidades. Portanto, em 2019 a RBPN conta com suas 20 unidades originais e mais 26 unidades Afiliadas VON. Para permitir maior agilidade nas questões administrativas desse grande complexo de unidades e da comunicação com a VON, em 2018 criou-se o Instituto Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais, que é uma associação sem fins lucrativos, de duração ilimitada e que congrega médicos dedicados ao estudo e pesquisa neonatais.
Dentre os objetivos da RBPN, como já citado, a melhoria da qualidade da assistência ao prematuro de muito baixo peso é uma das prioridades. Nesse sentido, em todos esses anos, houve apoio e parceria do Ministério da Saúde em diversos projetos que tinham por finalidade a disseminação em todo o território brasileiro, em nível de Sistema Único de Saúde, de experiências bem-sucedidas na melhoria da qualidade da assistência neonatal por membros da RBPN. Além disso, a RBPN, de maneira constante, estimula a discussão dos relatórios anuais VON em cada unidade e são feitos encontros anuais e, eventualmente duas vezes ao ano, nos quais se discutem os principais resultados de desempenho de indicadores da RBPN no contexto mundial, frente aos resultados da VON como um todo, e no contexto nacional, frente às unidades brasileiras que reportam à VON. Também, para estimular a discussão e a troca de experiências das várias unidades brasileiras, a RBPN tem promovido encontros abertos, sendo essa uma atividade de dia inteiro com programa pré-definido para discussão dos principais indicadores de assistência em UTI Neonatal.
Ainda, dentre os objetivos da RBPN, destaca-se a realização de estudos colaborativos epidemiológicos, diagnósticos e terapêuticos em Neonatologia. De fato, a união dos centros universitários tem proporcionado o desenvolvimento de estudos colaborativos de alto nível a partir da consolidação do banco eletrônico, constituindo-se verdadeiramente numa rede de pesquisas neonatais. Este banco de dados é composto por informações de 1500 a 2000 prematuros nascidos com menos de 1500g ao ano nas 20 unidades da RBPN. Assim, a RBPN tem cumprido seu papel de divulgação das informações em publicações em revistas especializadas e apresentação dos estudos em eventos nacionais e internacionais, possibilitando que as experiências e pesquisas brasileiras tenham relevância no contexto internacional.
Dessa forma, a RBPN tem servido de elemento técnico norteador de discussão e implementação de políticas públicas que visam diminuir a mortalidade associada à prematuridade no Brasil e melhorar a qualidade da assistência à saúde para esse grupo de altíssimo risco de nossa população.
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Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais – RBPN
Agosto 2019